Foram dois anos e oito meses do início da investigação até o fim do julgamento — trabalho que revelou minúcias do planejamento da conspiração concebida dentro do Palácio da Alvorada com a participação de civis e militares que ocupavam cargos importantes no governo, oficiais de alta patente e sicários treinados para eliminar adversários e manter Bolsonaro no poder, todos atuando sob a inspiração, orientação e liderança do então presidente da República, de acordo com a denúncia. Como era esperado, o voto de Alexandre de Moraes, relator do caso, balizou a decisão da maioria. Durante quase seis horas, ele enfileirou uma cadeia de eventos golpistas ocorridos a partir de 2021 — a campanha para desacreditar as urnas eletrônicas, as ameaças ao STF, o apoio a manifestações que pediam intervenção militar, os acampamentos em frente aos quartéis, a confecção de minutas que davam verniz de legalidade à anulação das eleições de 2022, o plano para “neutralizar” autoridades, os protestos violentos durante a diplomação do presidente eleito e a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal no dia 8 de janeiro. Moraes listou treze atos classificados por ele como “executórios”, ou seja, iniciativas que foram efetivamente colocadas em prática com o objetivo de manter o ex-presidente no Palácio do Planalto. “O réu Jair Messias Bolsonaro exerceu a função de líder da estrutura criminosa e recebeu ampla contribuição de integrantes do governo federal e das Forças Armadas, utilizando-se da estrutura do Estado brasileiro para a implementação de seu projeto autoritário de poder”, resumiu o relator.