A decisão de Trump de aplicar tarifas aos produtos brasileiros, além de ter a capacidade de se converter em uma tragédia econômica, pode ser um campo minado para os interesses de políticos que apostam no caos. “Parece que essa taxação foi aplicada contra um país inimigo”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. Aeronaves e equipamentos para a engenharia civil e construção, por exemplo, estão entre as exportações que mais dependem do mercado americano, com 62% e 52% de suas vendas externas, respectivamente. Logo depois do anúncio, governistas e oposicionistas tentaram culpar uns aos outros pelas prováveis consequências que a medida deve provocar no setor produtivo brasileiro. Para aliados do ex-presidente Bolsonaro, o responsável pela ofensiva americana seria o presidente Lula, que há tempo vem negligenciando a diplomacia e confrontando a Casa Branca ao defender, por exemplo, o fortalecimento de relações comerciais com países do Brics, o apoio aos palestinos na guerra contra Israel ou a condenação dos bombardeios ao Irã — além do fato de o petista ter declarado apoio a Kamala Harris, candidata derrotada por Trump nas últimas eleições. Em uma rede social, Bolsonaro disse que é “perseguido porque segue vivo na consciência popular” e que, por isso, “tentam aniquilá-lo politicamente, moralmente e judicialmente”. Integrantes do governo, em contrapartida, acusam o ex-presidente de conspirar contra o país ao contratar uma crise em sua cruzada para tentar escapar da prisão. Em nota, Lula afirmou que “o Brasil é um país soberano que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Os ministros do Supremo não se pronunciaram.