A experiência salvadorenha tem provocado intensos debates entre especialistas, tendo em vista como esse problemático modelo ditatorial é capaz de contar com o apoio massivo da população local (a aprovação de Bukele encontra-se hoje no extraordinário patamar de 91%). Políticas de linha dura tornaram-se nos últimos tempos uma grande plataforma política em vários países. No violento Brasil da atualidade, a segurança é hoje a maior preocupação do eleitorado, sendo que boa parte dele atribui a culpa disso a um sistema generoso demais com os criminosos. Segundo pesquisa divulgada pela Quaest, na quarta-feira 30, 86% dos entrevistados concordam com a frase “polícia prende bandido, mas a Justiça solta”. Dentro desse contexto, Bukele vem ganhando admiradores também fora de seu país. Pelas características singulares de El Salvador, no entanto, dificilmente se conseguirá replicar a experiência de lá em outro lugar — e não apenas pelo aspecto ditatorial. Trata-se de um país com pouco mais de 6 milhões de habitantes, do tamanho de Sergipe, e à margem do tráfico internacional de drogas, o potente motor do crime organizado no planeta. Hábil marqueteiro, Bukele pinta a nação às margens do Pacífico como um destino turístico paradisíaco, lar da “Cidade do Surfe” e de eventos como o Miss Universo. Ao mesmo tempo que recebe investimentos da China, com os quais inaugurou uma mastodôntica biblioteca na capital e planeja estádios, portos e teleféricos, ele agrada a Donald Trump ao abrir seus presídios para deportados e até criminosos americanos. “Bukele vive um paraíso astral geopolítico enquanto transforma o país em colônia penal internacional”, critica Ivan Briscoe, do centro de pesquisas Crisis Group.