Com o avançar dos meses sem chuva, a crise assumiu características de pesadelo climático — a vegetação ressecada serve de combustível para as queimadas, quase todas provocadas por ação humana, que agora se propagam em velocidade jamais vista. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), o Brasil somou 160.000 focos até setembro, o dobro do mesmo período do ano passado. O fogaréu cobriu de fumaça tóxica 60% do país e fez a qualidade do ar de cidades como São Paulo, Porto Velho e Brasília figurar entre as mais insalubres do planeta. “Estamos no meio da floresta, mas respiramos fuligem 24 horas por dia, há meses, o que fez minha família inteira adoecer”, diz Jesuíta Brito, 43 anos, empresária que vive com os filhos Maria Giulia, 11, Charlen, 4, e Rebeca, 9 meses, em Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, a 900 quilômetros de Manaus. Após doze meses seguidos de seca, a situação do município, segundo o Cemaden, é a pior do país — isso em uma região onde chuvaradas desabavam religiosamente todo fim de tarde.